segunda-feira, outubro 26, 2009

Quando hackers mostram o rumo


Linus Torvalds, o criador do Linux, é considerado um dos maiores hackers de todos os tempos. É que, ao contrário do que se pensa, o hacker não é aquele programador mal-intencionado, que rouba senhas de banco ou cria vírus. Na origem, o termo designa o desenvolvedor que cria um software e abre seu código para o mundo. Demorou alguns anos, mas os governos ao redor do mundo estão, eles mesmo, se tornando hackers, disponibilizando bancos de dados para programadores interessados em criar sistemas que usem essas informações.


Agora, desenvolvedores, comunicadores e cientistas sociais estão usando aplicativos de web 2.0 com API aberta, como o Flickr e o Google Maps, para cruzar com dados governamentais e dispôr outro olhar sobre o que outrora eram só uma lista de números sem sentido. Crowdsourcing é como é chamado esse modelo de construção de ferramentas, que usa inteligência e mão-de-obra coletiva para encontrar soluções para problemas e criar novas tecnologias.


Esse movimento de cidadania 2.0 pode criar sistemas úteis para análise de dados de interesse público, como o tr3e, que compara em um mapa três modelos de metodologia de coleta de dados de desmatamanto do INPE. “Eu ficava confuso quando via os números, todos diferentes entre si, então tive essa ideia”, disse Thiago Carrapatoso, o idealizador do projeto. O tr3e só pode ganhar vida depois que Carrapatoso conheceu dois programadores que gostaram da ideia no Transparência Hack Day, um dos eventos que reúnem ideias e idealizadores.


No Brasil, esse processo está engatilhando. Recentemente, o governo federal convocou programadores interessados a investigar se é possível fraudar as eleições por meio de manipulação do sistema das urnas eletrônicas. Além disso, o Governo do Estado de São Paulo está desenvolvendo um projeto chamado de Governo Aberto, que tem por objetivo disponibilizar bases de dados e indicar aplicativos feitos com essas bases pelos programadores.



• Entrevista: Pedro Markun, do Transparência Hack Day

O analista de mídia social Pedro Markun ajudou a organizar o Transparência Hack Day, evento que reuniu programadores e idealizadores em São Paulo para buscar soluções de gestão pública através da web 2.0.

Para os programadores, qual o desafio de desenvolver esse tipo de ferramenta?
É bem comum, entre quem programa por prazer, ficar horas tentando resolver um probleminha. Ao colocar os programadores em contato com pessoas que têm outras visões, o desenvolvedor ganha uma outra concepção dos fenômenos e destina aquela energia pra algo produtivo.

É uma expressão de cidadania aplicada à web?
Sim. A cultura hacker, que está na essência do bom programador, não tem limitação por si. Você pode montar e desmontar qualquer coisa. Quando você adiciona a prática de cidadania, reveste isso de algo mais significativo.

Qual o papel da API aberta e dos ambientes colaborativos?
É a estrutura condicionante que permite que esse processo aflore. Essa interação só é possível porque temos um amplo calço formado por software livre e API aberto.

Como trazer mais pessoas ‘comuns’ para participar desse movimento?
É preciso sensibilizar as pessoas para a responsabilidade delas com relação à política pública. E ao produzir soluções que levem essa informação para o público final, a pessoa se dá conta de que é possível interferir nesse processo.

Você acha que esse tipo de “política 2.0” vai se tornar comum ?
O que eu vejo acontecendo é que a fronteira entre técnico e processo comunicacional está se esvaindo. A ferramenta de blog era algo complexo e já foi apropriada por todo mundo.

Qual o interesse do poder público na construção de ferramentas assim?
Mais do que interesse, é um dever do Estado fornecer essas informações. Quando um governo abre a API, ele está dividindo a responsabilidade de melhorar esse 'software' com toda a sociedade.

Por Ana Luiza
Webinsider

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